Tudo que é velho é novo novamente — pelo menos no caso do acid jazz, a fusão nascida em Londres que veio a definir tanto uma década de música dançante do Reino Unido quanto amúsica tema de Sex and the City. "Eu sinto que sou a próxima geração de pessoas que surgiram da era do acid jazz, apenas continuando essa abordagem musical," diz Kamaal Williams, o produtor/pianista londrino de 28 anos, cujo novo álbum The Return, pela sua própria Black Focus Records, é lançado hoje, eestá à venda em uma edição limitada em vinil vermelho via Vinyl Me, Please.
Ele cita Jamiroquai como uma influência inicial, embora mais do ponto de vista conceitual do que puramente estético. “A música deles é muito influenciada por Roy Ayers e Donald Byrd — é meio que uma cópia desses grooves, mas com vibe mais do Reino Unido”, ele explica. “Eles realmente fizeram a ponte entre a música comercial e a música soul. Não é sobre ser intelectual ou fazer algo muito sofisticado; é apenas sobre ser verdadeiro ao som da nossa geração.”
Para Williams, esse som é menos otimista do que os grooves do nu-funk de suas inspirações dos anos 90 — mas ainda quase tão dançante. Ele chamou a atenção internacionalmente pela primeira vez como metade da dupla Yussef Kamaal, o duo de jazz e mais cuja lançamento de 2016 pela Brownswood Black Focus está muito enraizado na fascinação do jazz contemporâneo com os sintetizadores dos anos 70, mas com muito mais música de dança do Reino Unido misturada. O álbum colocou Williams e seu então parceiro criativo Yussef Dawes no centro da explosiva cena de música improvisada de Londres, cujos laços com a cultura dos clubes a distinguem das americanas — embora também permaneça ligada ao termo “jazz”.
Mas a dupla se separou de repente em 2017, pouco antes do maior show deles até aquele ponto, e agora Williams está trabalhando com sua própria banda para capturar sua cidade natal em estúdio. “É um grupo de londrinos nativos colocando suas emoções juntas para criar algo que durará enquanto a Terra durar”, ele diz sobre The Return. “O ritmo de Londres é muito rápido. Tudo está a dois palmos na sua frente — não há horizonte em Londres, são apenas prédios e capitalismo. Temos que sobreviver aqui, e esta é a nossa maneira de expressar isso.”
Williams cresceu no bairro de Peckham, em Londres, ainda não gentrificado, filho de uma mãe taiwanesa e um pai britânico. Ele ainda é muito próximo de sua mãe, a fonte de seu nome artístico Henry Wu (Wu é o sobrenome dela), e abraçou a aprendizagem de mandarim, bem como caligrafia chinesa enquanto crescia. Para Williams, esse interesse — além do trabalho de seus pais em design — se traduziu em desenhar graffiti por Londres (ele se recusa a compartilhar sua assinatura de graffiti, dizendo que era bastante prolífico: “Eu não gostaria de me incriminar”) e, eventualmente, aprender árabe. Esses influências combinadas podem ser vistas na capa de The Return, que apresenta uma foto em preto e branco de Williams recortada em um caractere árabe desenhado por um calígrafo chinês/muçulmano. O próprio Williams é muçulmano, e Kamaal é o nome que ele escolheu para si mesmo após converter-se há sete anos.
Musicalmente, Williams cita alguns pontos de virada: um foi a dupla de garage/grime Oxide and Neutrino, cujo álbum de 2001 Execute foi o primeiro que ele lembra de “ir ao Tesco e comprar por £9.99.” “Eles são do sul de Londres, então era o que estávamos ouvindo na escola”, ele explica agora. Ele já estava tocando percussão na banda da escola, e a paixão pelo hip-hop em suas formas americana e britânica que começou com Execute o levou a produzir. Outro foi seu pai apresentando-o ao jazz via clássicos de Miles Davis e John Coltrane, junto com alguns jams mais blueseiros de Santana. Quando ele chegou à faculdade, onde estudou música e passou a tocar teclados bem como bateria, Williams era um bonafide crate-digger — algo que ele diz ser uma fonte interminável de inspiração. “Esses discos dos anos 60 e 70 soam frescos até hoje”, ele diz agora. “Encontrei um outro dia de Eddie Henderson chamado Mahal, e me deixou de queixo caído — é de 1978, e soa mais fresco do que qualquer coisa que ouvi hoje. O fato de que podemos voltar e encontrar esses discos que eram antes do nosso tempo apenas significa que há uma nova vida para essa música.”
Tocando funk por Londres, Williams entrou na banda da então recém-contratada cantora de dubstep Katy B, onde permaneceu por dois anos. Tocar para outros artistas, no entanto, acabou induzindo uma crise de fé que o fez quase desistir da música em 2012. Foi apenas com a promessa de um novo selo dirigido por artistas — 22a, que se consolidou em 2013 — que Williams começou a criar de novo, focando na produção de faixas de broken-beat e house. O aclamação da crítica (e sets da Boiler Room seguiram enquanto ele integrava música ao vivo em suas criações já influenciadas pelo jazz; entra Yussef Dawes e um show fatídico no Worldwide Awards de Gille Peterson em 2016, e de repente ele tinha um acordo de gravação para fazer, senão jazz, algo bem próximo.
“Para ser sincero, eu mesmo não gosto nem da palavra jazz — eu mesmo não a uso”, diz Williams. “Para mim, é 2018 — jazz é algo que estava nos anos 50 e 60. [Americanos] foram criados com jazz. Nós realmente não tivemos isso aqui, então nosso negócio é um pouco diferente. Eu definitivamente acho que o espírito do jazz está em nossa música, mas estamos em uma era diferente agora.” Em vez disso, a linhagem que ele se vê é a das bandas de acid jazz como Incognito e Brand New Heavies — bandas que ele sente serem distintamente londrinas. “Essas são as pessoas que meio que passaram a tocha para mim”, diz Williams, que conheceu o líder da banda Incognito Jean-Paul “Bluey” Maunick há alguns anos. “Eu realmente me conectei com ele — éramos os mesmos”, ele relembra. “Tínhamos a mesma abordagem para a música.”
O que Williams absorve do jazz — que você pode ouvir na interpretação fluida e pouco ortodoxa de The Return sobre música acústica orientada pelo groove — é tanto uma devoção ao ofício quanto a magia da espontaneidade colaborativa. “O mercado foi tão inundado por música eletrônica, a ponto de que qualquer um pode comprar um laptop e fazer uma batida house básica muito rapidamente”, diz Williams. “Mas o que as pessoas não podem fazer é pegar um instrumento e gravar rapidamente um álbum de jazz. As pessoas estão gostando da experiência de ver cinco ou seis pessoas no palco se comunicando e improvisando.” Ele testará essa tese neste verão em uma série de datas de festivais pela Europa.
Assim como Williams não está satisfeito com o termo jazz, ele não está interessado em chamar sua música de fusion ou acid jazz ou qualquer outro termo destinado a indicar que sim, essa música tem improvisação mas não, não soa como Charlie Parker, ou Albert Ayler, ou Wynton Marsalis. “Vou começar um novo gênero com a essência do jazz, mas completamente diferente”, diz ele. “Quando você vê meus shows ao vivo, é algo diferente. A energia está lá, mas o que estamos fazendo ritmicamente e melodicamente é definitivamente novo. Estou apenas trabalhando no nome do meu novo gênero, mas vou te falar muito em breve sobre isso. Vou deixar vocês saberem.”
Natalie Weiner is a writer living in Dallas. Her work has appeared in the New York Times, Billboard, Rolling Stone, Pitchfork, NPR and more.
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